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#6COBCIBER: as ameaças ao jornalismo que surgem de dentro para fora

A sexta edição do Congresso Internacional de Ciberjornalismo aconteceu nos dias 22 e 23 de novembro na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Como parte da programação do segundo dia, o professor Manuel Pinto abordou o tema “Ameaças ao (ciber)jornalismo que vêm do próprio campo jornalístico” em conferência.

Manuel Pinto na conferência “As ameaças ao (ciber)jornalismo que vêm do próprio campo jornalístico”. Foto: Ana Isabel Reis

Em tempos de fake news, conteúdos patrocinados, publicação amadora e redes sociais, para Manuel Pinto, professor da Universidade do Minho, é um erro pensar que os problemas do jornalismo se resolverão apenas por meio do próprio jornalismo. Segundo o orador, falta um posicionamento de defesa e preservação por parte dos profissionais, que por vezes, exercem seus papéis pela ótica do entretenimento e do lucro, e assim, contribuem a colocar a credibilidade de suas profissões em questão.

Ao abordar o jornalismo cidadão como uma das ameaças, o professor afirmou que “é preciso separar o trigo do joio, o que é jornalismo e o que não é”. E complementou a dizer que o “fazer jornalístico” é privilégio daqueles que vivem para o ofício. Cabe ao jornalista o papel de editar, buscar a verdade a todo custo e investigar com competência, tempo e dedicação.

Manuel também pontuou que essas ameaças podem abrir oportunidades para novas questões. Segundo o professor, para contorná-las é importante enxergar a sociedade como sujeitos e não como audiências, se preocupar com a transparência e refletir para além do jornalismo, a conhecer outras áreas e a dialogar com a sociedade.

Como resultado positivo da preocupação dos jornalistas diante dessas circunstâncias, o conferencista mencionou a iniciativa do Sindicato dos Jornalistas que consiste em introduzir a literacia mediática na educação dos adolescentes. O projeto foi apoiado pelo Ministério da Educação e será implementado inicialmente em sete escolas do ensino secundário.

Jessica Santos

Turma 4

III Jornadas ObCiber: “Vamos profetizar o jornalismo?”

João Canavilhas na Conferência sobre o futuro do Ciberjornalismo

João Canavilhas na Conferência sobre o futuro do Ciberjornalismo

No passado dia 4 de Dezembro, o polo de Ciências da Comunicação da Faculdade de Letras da Universidade do Porto recebeu as III Jornadas do ObCiber. Pelas 11:30h da manhã, o professor João Canavilhas, investigador da Universidade da Beira Interior (UBI), levou os ouvintes numa viagem até ao futuro, catapultando-os para o ano de 2025.

A sua prospeção assentou em 3 eixos base: consumo, distribuição e conteúdos. Transversais a estes 3 eixos, surgem os conceitos de nicho e de individualização, postulando que “é melhor servir bem os ‘nichos’ do que servir mal as massas” e que “o homem é o homem e as suas circunstâncias” para que a plateia entenda a dimensão da mutação que o futuro reserva.

Quer seja de assustar ou não, é certo que as mudanças vieram para ficar. De facto, se olharmos para o passado, ao nível do consumo, passamos de um contexto grupal, estático e periódico, para um contexto individual, móvel e diferido. Isto é, se antes se liam as notícias no café com os amigos, num suporte físico e estático como um jornal, com uma periodicidade inerente, hoje o leitor lê-as sozinho e em qualquer sítio, através dos seus tablets e smartphones, diferidamente, ou seja, a qualquer hora. Ao analisarmos a transição do contexto passado para o presente, é de esperar que, no futuro, se torne num contexto social – o facto de, hoje em dia, os próprios órgãos de comunicação estarem presentes nas redes sociais, demonstra a ideia de que “não vale a pena fazer bom jornalismo onde não houver leitores”; incorporado, ou seja, o consumidor “veste” os dispositivos e estes funcionam como uma extensão do corpo; e “always on”, isto é, o utilizador está constantemente à espera que aconteça algo.

Do ponto de vista da distribuição, o professor João Canavilhas, através da mesma técnica de comparação, evidenciou que existiu uma transição de um sistema pull (em que o utilizador procura os conteúdos), local e periódico, para um sistema misto (o utilizador procura informação específica mas também tem acesso naturalmente, através das novas tecnologias de comunicação), global e adaptado – o sistema de cookies intervém neste aspeto, tornando o que é instantâneo, adaptado ao seu destinatário. Assim, espera-se que no futuro se esteja perante um sistema push, em que há uma seleção de quem/do que informa, a uma dimensão glocal, isto é, algo a nível local atinge um nível global, de forma instantânea, a que se prende a necessidade de triar a informação, já que esta surge de forma automática e instantânea.

Por fim, quanto ao eixo dos conteúdos, evoluiu-se de um conteúdo monomédia, fechado e massificado, isto é, de um conteúdo em suporte físico que não permite a intervenção do leitor e que é generalizado e não contextualizado, para um conteúdo multimédia, atualizado e temático – há diversidade de recursos, há intervenção do leitor ainda que condicionada e o contexto é dado através da segmentação mediática. Assim, perspetiva-se que os conteúdos se tornem imersivos, abertos e personalizados, isto é, através dos novos gadgets que funcionam como uma extensão do corpo, é possível imergir o leitor na notícia e no acontecimento como se este se encontrasse lá; é-lhe permitido [ao leitor] participar e é-lhe dada a devida creditação; por último, o conteúdo é escolhido em função do utilizador e das suas preferências.

No entanto, a questão transversal à evolução dos três eixos que aqui se coloca é: e a privacidade? Até que ponto não perde o utilizador o seu direito a selecionar que informações suas são públicas e as que não são? Por outro lado, surge ainda outra questão pertinente quanto à participação do leitor na produção noticiosa: até que ponto o jornalista “formado” tende a desaparecer se, num panorama global, qualquer um é passível de se tornar um agente noticioso?

Tal como João Canavilhas refere, em jeito de término, em 2025 um smartphonesaberá tanto ou mais de nós do que nós mesmos e do que quem nos rodeia”, numa Era em que a informação será adaptada ao utilizador e às suas circunstâncias.

Cabe, pois, ao leitor, refletir e decidir quais os limites que permitirá serem ultrapassados.

Comentário por Sofia S. Cruz