Likes, partilhas, seguidores e visualizações. Não há dúvidas de que as redes sociais revolucionaram a comunicação. Mas será que a interatividade,o acesso à informação, a ubiquidade, a velocidade de comunicação e tantas outras comodidades têm um preço a pagar? Numa época de Fake News, onde nunca hove tanta informação e tantas pessoas desinformadas é essencial refletir sobre a influência das redes sociais na sociedade.
563 anos atrás Guttenberg revolucionava a comunicação com a invenção da imprensa. Surgem então os primeiros jornais, o fenómeno da opinião pública, a liberdade de imprensa e a democracia.
Mais tarde, a Internet trouxe a rapidez, o armazenamento de informação, o hipertexto e o conceito de multimédia.
Hoje, na era do Facebook, do Twitter, do Instagram, do Youtube, de Likes, Comentários e Influenciadores Digitais, compreende-se o quanto as Redes Sociais alteraram a economia, a sociedade e a comunicação. Perante a realidade das Fake News, do Clickbait e de conteúdos virais, possíveis devido à massificação do uso das redes sociais, em que medida estas plataformas são uma ameaça ao jornalismo independente e consequentemente para a democracia?
Um estudo de 2017, conduzido pelo Omidyar Group: “Is Social Media a Treath to Democracy” indica a polarização política, a desinformação e a manipulação de dados como alguns dos riscos das redes sociais.
Para os investigadores, uma das causas destas ameaças é o algoritmo de redes sociais como Facebook e Twitter. É ele que determina o que vemos, analisando posts e likes para sugerir conteúdos semelhantes aos que já interagimos anteriormente. Estes filtros que selecionam o conteúdo são chamados de filtros-bolha, uma vez que envolvem o usuário da rede, de modo a que sempre lhe seja apresentada a mesma perspetiva. Esta filtragem contribui portanto para o reforço de divisões políticas e de pontos de vista extremos: o contacto com outras opiniões enfraquece. Segundo estudo, esta crescente personalização significa que ao longo do tempo, “os cidadãos tendem a ler e a acreditar mais em informações partilhadas pelas pessoas circundantes do que as notícias publicadas e revistas por um editor.”
Estamos perante a perda do jornalismo como gatekeeper, o fim da existência de um intermediário entre a informação e o público. Hoje, se um jornal decide não publicar determinada notícia, algures nas redes alguém a vai compartilhar, e serão os filtros-bolha a determinar quem vai ter acesso a essa informação. O público já não é consumidor e sim prossumidor ( prossumer): consome ao mesmo tempo que produz.
Esta mudança, segundo um artigo publicado pelo The Guardian , é ” ao mesmo tempo positiva e negativa; existem oportunidades e existem perigos.” Ao mesmo tempo que abre espaço para assuntos tabu serem discutidos, permite a difusão de Fake News.
Esta característica das redes sociais pode ter consequências importantes para a sociedade, como é referido num artigo publicado pelo Expresso , onde é descrita a possível influência de informações falsas em processos como o Brexit e a eleição de Donald Trump.
Perante esta realidade, é visível como as redes sociais e a sua influência pode representar uma ameaça para a sociedade.
Também é esta a opinião de Chamath Palihapitiya, ex- vice-presidente do departamento de expansão de usuários do Facebook, que declarou durante uma conferência da Standford Graduate School of Business em 2017 que para além de não utilizar mais a plataforma considera que “ Os loops de feedback de curto prazo, impulsionados por dopamina, que criámos, estão a destruir o funcionamento da sociedade: nenhum discurso civil, nenhuma cooperação, desinformação, mentira.”.
Numa época em que segundo um relatório do Reuters Institute e da Universidade de Oxford, noticiado pelo Observador, as redes sociais já são a principal fonte de informação, pelo menos nos 34 países analisados, é necessário o debate sobre estas questões.
É o que vai acontecer dias 22 e 23 de Novembro no VI Congresso Internacional de Ciberjornalismo, a decorrer na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Nesta edição do evento, centrada nas ameaças ao ciberjornalismo, vai abordar-se o fenómeno das redes sociais no contexto das Fake News, do Clickbait, de Conteúdos Virais entre outros tópicos presentes no programa bem como nas sessões paralelas.
Maria Francisca Simões