A crescente utilização da internet como meio de difusão de notícias levou a um aumento das notícias descontextualizadas. Esta será uma das ameaças debatidas no Congresso Internacional de Ciberjornalismo, que vai ter lugar no Porto em novembro.
Descontextualizar, tal como a palavra indica, é tirar algo do contexto ou representá-lo de forma enganadora. O imediatismo e a competitividade do jornalismo na internet fomentaram o recurso a títulos ou citações fora do contexto. De acordo com o jornalista brasileiro Leonardo Sakamoto, “a descontextualização é quando o jornalista sapateia na cara de quem lhe deu uma entrevista, causando a ira da fonte e, não raro, a construção de uma narrativa diferente da intenção original”.
A publicação de notícias descontextualizadas tanto pode ser acidental como propositada. Acidental se o jornalista não estiver informado sobre aquilo que está a reportar, se não verificar as fontes ou até se cometer algum erro gramatical ou ortográfico. Propositada quando se pretende atrair clicks ou intencionalmente deturpar a imagem pública de alguém.
Este fenómeno é mais prevalente quando os alvos são celebridades, principalmente nos tablóides. Um exemplo usado pelo professor universitário Andy Bechtel é o de um título de uma entrevista a Brad Pitt sobre o início da sua carreira em hollywood. Antes de ser ator, Pitt trabalhava como motorista e levava strippers para festas e uma das mulheres recomendou-lhe o professor de representação que o ajudou a chegar ao sucesso. Quando o jornalista mencionou esta situação, Brad Pitt respondeu em tom de brincadeira que as strippers mudaram a sua vida, e essa citação acabou por ser o título do artigo.
Mais recentemente, a situação do YouTuber PewDiePie, o detentor do canal com o maior número de subscritores na plataforma, reacendeu o debate sobre a importância do contexto. PewDiePie, cujo verdadeiro nome é Felix Kjellberg, acusou o Wall Street Journal de levar a sério piadas sobre judeus que fez no seu canal. “Eles pegam nisso e usam foram do contexto para me retratar como um nazi”, afirmou Kjellberg. “Foi um ataque dos media para me tentar descredibilizar e diminuir a minha influência”, concluiu.
Apesar do uso exagerado no mundo do entertenimento, a descontextualização também é muitas vezes usada na política. Grupos ideológicos e partidos aproveitam-se do facto de a maioria da população não verificar o contexto daquilo que lê para propagar informação enganadora. “Esse tipo de descontextualização tem sido bastante usada na guerra de informação na internet. Quando um grupo tenta desacreditar uma ideia ou uma matriz de interpretação do mundo, pinça uma frase ou uma imagem fora de seu contexto”, afirma Leonardo Sakamoto. Há instâncias em que até artigos satíricos são usados de forma séria para difundir ideias falsas.
A descontextualização leva à perda de credibilidade do ciberjornalismo e cria uma ambiente hostil com as fontes visadas. Esta ameaça, assim como muitas outras, vai estar em discussão na sexta edição do Congresso Internacional de Ciberjornalismo. O evento vai decorrer a 22 e 23 de novembro, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
Adriana Peixoto, turma 2