Arquivo mensal: Outubro 2018

Desinformação: será que andamos todos assim tão bem informados?

O jornalismo online é cada vez mais o meio jornalístico de maior relevo. As novas tecnologias permitem a atualização constante e o saber imediato que caracterizam esta geração. Mas será que podemos acreditar que toda a informação é correta? Não vivemos antes na era da desinformação? A discussão é trazida pelo #6COBCIBER.

O crescimento do ciberjornalismo traz consigo desafios que andam a deixar a cabeça dos jornalistas em água. Um grande número de jornais a nível mundial já identificou  e alertou para a desinformação como uma ameaça atual, a par das fake-news. Esta ameaça tem vindo a ganhar terreno e põe em risco o jornalismo como o conhecemos.

A desinformação induz no leitor ideias falsas quanto a uma determinada realidade. Numa era em que a publicidade está no centro de toda a informação que consumimos, a desinformação surge com o objetivo de manipular o leitor e as suas opiniões em relação ao mundo que o rodeia.  Alguns dos métodos que a suportam são a supressão de informação, a modificação do sentido da informação, o uso de “pressupostos”, a associação a fenómenos distintos e descontextualizados, a generalização  ou a dissuasão.

A difusão de mensagens falsas e de informação manipuladora causa um caos na internet e consequentemente na sociedade em que vivemos. A desinformação coloca em causa uma questão muito importante: a da confiança. Até que ponto o que lemos é verdadeiro? Como distinguir a informação da tal desinformação? E, acima de tudo, qual a solução para tudo isto?

As respostas não são ainda certas mas os riscos estão bem à vista. Por ser uma questão séria, a desinformação é um dos temas-destaque do VI Congresso Internacional de Ciberjornalismo, a realizar na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, nos dias 22 e 23 de novembro. Pode ler-se mais sobre o evento e respetivo programa aqui.

Maria Inês Pinto da Costa, turma 1

O desinvestimento no ciberjornalismo (ou como a realidade destruiu a utopia)

A expansão da Internet trazia consigo a promessa de oportunidades ilimitadas para o jornalismo. Mas a realidade ficou aquém do esperado e o fascínio inicial desapareceu. Deadlines apertados, excesso de trabalho, redução de custos e cortes nas redações – é este o cenário atual do jornalismo em rede. Como é que a realidade destruiu a utopia? E que modelos estão a ser adotados para contrariar esta tendência?

O êxtase tecnológico que pautou a década de 90 fez os académicos antever a criação de um jornalismo contextualizado, instantâneo e conversacional. A Web passaria a encerrar um conjunto de novas potencialidades, entre as quais a interatividade, a personalização e a gestão por parte do leitor. Tais características estariam ao serviço do ciberjornalista no processo de criação das suas histórias (ou storytelling).

Num período de quebras na faturação dos media impressos, acreditou-se no poder transformador das tecnologias digitais. A transição para a Nova Economia redobrou essa esperança. A expressão, primeiro utilizada por Michael J. Mandel no seu artigo de 1996 para a revista BusinessWeek, atingiu um acentuado nível de popularidade com a ocorrência da “bolha” da Internet ou das empresas dot-com. Essa época ficou caracterizada por uma forte valorização das empresas ligadas às novas tecnologias da informação e comunicação.

Em Portugal, assistiu-se a uma migração massiva dos jornalistas para a Internet: as edições online dos meios tradicionais registaram uma intensa atividade e começaram a surgir as primeiras publicações online-only (entretanto, já extintas).

O plano internacional era favorável a altas taxas de crescimento e a uma grande especulação económica. Estava instalado um clima de otimismo exacerbado – e de investimentos que sairiam defraudados.

O choque com a realidade

Com o rebentamento da Bolha da Internet, em plena viragem do milénio, deu-se o verdadeiro embate. Em 2001, muitas empresas dot-com estavam já em processo de venda, encerramento ou fusão. Para trás ficou o boom dos anos 90 e os milhões de dólares aplicados. O rebentamento também se fez sentir no panorama português, com o encerramento de inúmeros cibermeios e o corte abrupto no número de efetivos. O ciberjornalismo nacional passou, então, por uma longa fase de paralisação, marcada pela existência de redações diminutas e a falta de apoio num setor com cada vez mais limitações.

Estes constrangimentos, agravados pela recessão económica de 2008, traduziram-se num aumento exponencial da carga de trabalho que, por sua vez, resvalou numa inércia e sedentarismo forçados. Prescindiu-se da narrativa hipertextual e multimédia, ao mesmo tempo que se optou pela adaptação de material já publicado por outro meio e se aderiu a outras rotinas menos exigentes. A publicação de notícias breves e sem contextualização passou a ser algo constante, dado o deadline cada vez mais reduzido. E a conjuntura desfavorável continuou, com a degeneração das condições de trabalho dos ciberjornalistas, a exigência constante por múltiplas competências e a escassez de fontes próprias na produção dos conteúdos.

Quais as soluções?

Mesmo decorridos vários anos desde os primeiros sinais de desinvestimento no ciberjornalismo, não se descobriu ainda o método perfeito para a resolução eficaz deste problema. No entanto, têm vindo a ser desenvolvidos modelos de negócio que procuram financiar os projetos online e garantir a sustentabilidade dos media enquanto estruturas empresariais. 

O Freemium designa a estratégia adotada por plataformas online como o Flickr, o LinkedIn e o Skype. Consiste em facultar um serviço básico ao público, colocando a maioria do trabalho à sua disposição de forma gratuita. Numa segunda fase, apresenta um outro catálogo de serviços, que tem de de ser pago para poder ser usufruído.

Já os micro-pagamentos procuram valorizar os conteúdos de forma individual, uma vez que possibilitam a compra da “unidade” informativa mediante o pagamento de pequenas quantias. Apesar de não se assumirem como um modelo eficiente do ponto de vista técnico, são por vezes utilizados com dinamismo na divulgação de temáticas especiais.

O paywall, por seu lado, assenta no conceito de “subscrições” e propõe a restrição de conteúdos para assinantes. É usado, por exemplo, pelo The Wall Street Journal e pelo The New York Times. Este modelo de negócio pode ser mais flexível ou taxativo, conforme as circunstâncias do mercado ao qual se tem de adaptar.

No caso do crowdfunding, é a audiência a financiadora do projeto (e não apenas o consumidor final). É um meio de levar a cabo projetos específicos, por vezes da autoria de jornalistas freelancers. Dirige-se a uma variante do mercado muito concreta e, por isso, de difícil apoio pelos meios tradicionais.

Com o modelo 360º, verifica-se uma multiplicidade de combinações possíveis. Resulta da fusão de todos os outros modelos de negócio e aposta na procura de novas soluções.

A necessidade de discutir outros fatores

Falar em crise no ciberjornalismo implica também abordar um outro conjunto de fatores que influi no processo de compreensão do problema: a identidade das empresas jornalísticas, a formação profissional e o papel da inovação dos conteúdos para a manutenção da lucratividade. 

Recorde-se que o desinvestimento é um dos fenómenos que ameaça o jornalismo online. Este e outros temas vão ser debatidos no VI Congresso Internacional de Ciberjornalismo, o encontro bianual que a Faculdade de Letras da Universidade do Porto volta a acolher entre os dias 22 e 23 de novembro.

João Couraceiro (up201704800)

Ad blockers para combater a publicidade intrusiva

No século XXI, a publicidade é rainha. No entanto, esta tem vindo a invadir cada vez mais os nossos ecrãs. Os ad blockers são um dos instrumentos para combater esta invasão constante.

 

Quantas vezes abrimos um website e somos instantaneamente bombardeados com banners, popups ou somos redirecionados para uma página de anúncios? Quantas vezes abrimos um vídeo e temos que aguentar os 30 segundos de publicidade antes de o podermos ver? Quantas vezes queremos ouvir música numa aplicação e somos interrompidos por um anúncio?

A parasita da publicidade tornou-se viral, ao ponto de já quase nem pensarmos no assunto, tal estamos habituados à sua presença constante. Mas, um dia, chegamos à conclusão de que já chega; é aqui que os ad blockers entram.

Os ad blockers são software que pode retirar, filtrar ou alterar conteúdos publicitários de uma página ou aplicação. Estão disponíveis tanto para computadores como para tablets e smartphones.

No entanto, há websites que dependem unicamente da publicidade para o seu financiamento e manutenção. Assim, com o aumento exponencial do uso de ad blockers, há websites que começam a exigir a desativação dos mesmos para se obter acesso.

As vantagens do bloqueio da publicidade são várias: proteção da privacidade, melhor experiência de utilizador, diminuição das distrações, maior filtragem de malware, maior rapidez no carregamento das páginas.

No relatório da OberCom de 2017, Estudo AdBlocking e Publicidade – Uma causalidade anunciada, é referido que “a utilização de softwares de bloqueio de publicidade é uma realidade em crescimento, realidade essa provocada por factores que começam na publicidade intrusiva e muitas vezes considerada persecutória, no sentido em que segue o utilizador dos domínios online para onde quer que este vá.”

O conflito entre publicidade e ad blockers é paralelo – ou, até, o mesmo – ao entre utilizadores e publicitários. “Por outro lado, é referido que o consumidor alega o controlo das suas práticas de Internet como factor crucial para o uso do ad-blocking, capaz de lhe garantir privacidade, segurança, conforto de pesquisa e utilização directa, ao passo que o publicitário vê no ad-blocking um apocalipse anunciado de todo um sector, em função da quebra de relação tradicional entre o consumidor e o fornecedor, e os riscos comerciais que daí advêm, com repercussão na sustentabilidade dos sectores.”

Este e muitos outros exemplos de ameaças à atividade jornalística no cibermeio estarão em discussão no VI Congresso Internacional de Ciberjornalismo, que irá decorrer a 22 e 23 de novembro da Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

 

 

Sofia Silva (Turma 1)

Manipulação no Clique: Só vemos o que nos deixam ver

Atualmente, já adquirimos consciência de que nem tudo o lemos e vemos na internet pode ser considerado verdadeiro. O conceito de fake news já não é desconhecido de ninguém e a verificação de fontes e factos tornou-se algo que nós mesmo podemos efetuar através de pesquisas filtradas.

No entanto, nem sempre estamos cientes do processo de manipulação de informação que ocorre por detrás de plataformas que, em primeira instância, serão de confiança. Blogues, websites, fóruns, redes sociais. Todos podem ser canais abertos para a publicação de histórias falseadas e acontecimentos simulados que são divulgados com o discreto objetivo de promover a agenda de determinados grupos ideológicos ou de simplesmente gerar lucro rápido através de cliques e visualizações.

De campanhas políticas em que são usados bots para aumentar a popularidade de candidatos nas eleições, a mortes de celebridades que são desmentidas para gerar visitas a blogues. Os instrumentos e estratégias estão disponíveis a quem os souber fazer render.

Ryan Holiday, especialista em Marketing e colaborador do site da revista Forbes, explica em detalhe no seu livro “Trust Me, I’m Lying“, o quão fácil é para alguém chamar à atenção da audiência para uma narrativa intencionalmente falseada num panorama ciberjornalístico onde o que é importante noticiar começa a perder terreno em detrimento do que obtém o maior número possível de cliques.

Os ciberjornalistas são muitas vezes condicionados por esta economia da atenção. Tudo o que é publicado online tem de ser privilegiado e em primeira mão segundos ainda antes de ter acontecido sequer para constituir uma novidade num meio altamente concorrencial.

Ilustração de Jim Cooke, presente no livro “Media Manipulation and Disinformation Online”.

O imediatismo, associado a uma frenética economia da atenção, pode ser aproveitado por vários setores sociais que distorcem o enquadramento da realidade noticiosa para provocar reações e atitudes nos indivíduos em seu favor. Media Manipulation and Disinformation Online, escrito por Alice Marwick and Rebbeca Lewis, define com precisão que setores são esses e como operam em diferentes plataformas participativas.

O enviesamento de factos e o seu consumo pelos leitores vai levar à sua consequente desinformação, promovendo a criação de ideias e opiniões sobre perspetivas falseadas. Já não se trata de uma ameaça só ao ciberjornalismo e à confiança na sua qualidade, como também à vida cívica.

Este e outros temas pertinentes estarão em discussão no VI Congresso Internacional de Ciberjornalismo, que decorrerá na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, nos dias 22 e 23 de Novembro.

Sara Passeira

Este clique vai mudar a tua vida!

Se está a ler isto, é porque acabou de ser vítima do famoso fenómeno do clickbait ou, como se poderia designar em português, a caça ao clique. Este e outros conceitos, que ameaçam o jornalismo online, serão debatidos na sexta edição do Congresso Internacional de Ciberjornalismo.

É já nos dias 22 e 23 de Novembro que a Faculdade de Letras da Universidade do Porto abre portas à discussão deste assunto tão atual. O congresso irá contar com a presença de vários professores e investigadores de universidades sul americanas e ibéricas que prometem apurar o impacto das novas tecnologias e a influência do marketing no ciberjornalismo.

Mas o que é, afinal, o clickbait?
Esta técnica, que tem vindo a ganhar popularidade desde 2014, tem como intuito atrair visualizações, recorrendo a estratégias de marketing. Deste modo, criam-se títulos e imagens polémicas ou misteriosas para despertar a atenção dos leitores que, levados pela curiosidade, não resistem em “clicar” na notícia.

Não obstante, esta prática tem levantado bastantes questões éticas, por se considerar que manipula, por vezes, o leitor, induzindo-o em erro. O impacto foi tal que o Facebook anunciou que estava a tomar medidas para evitar o uso deste procedimento por parte dos difusores de informação.

Num mundo onde a veracidade e objetividade da informação jornalística é constantemente ameaçada, torna-se pertinente averiguar de que maneira é que técnicas como o clickbait põem um entrave na credibilidade do jornalismo digital.

O VI Congresso Internacional de Ciberjornalismo vai debater as ameaças a este tipo de jornalismo, nos dias 22 e 23 de novembro, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Assegura, ainda, que serão abordadas temáticas como as fake news, o imediatismo, o infotainment, o sensacionalismo, a publicidade intrusiva e muitos outros.

Catarina Moscoso
up201707467, turma 2

 

O anonimato na Internet: mais negativo que positivo?

Desde que foi criada que uma das particularidades mais louvadas da Internet é a possibilidade de anonimato, ou pseudonimato, que oferece aos seus utilizadores. Esta é uma das temáticas em debate no #6COBCIBER. 

A necessidade de expressar uma opinião, dar voz a um pensamento, é quase universal. Durante anos, o microfone foi dado apenas àqueles considerados dignos, como políticos e comentadores, que expressavam as suas ideias formal e amplamente para um público, que sabia exatamente quem disse o quê e atribuía um julgamento, quer negativo quer positivo, com base em tal.

Com a chegada da Internet, tal mudou drasticamente. A possibilidade de anonimato, ou pseudonimato, que esta rede global oferece aos seus utilizadores fez com que o João de Portugal ou a Ashley dos Estados Unidos se tornassem tão ou mais influentes que os políticos e comentadores de outrora.

Quem diz o João ou a Ashley, diz a ativista pelos direitos LGBT russa; ou a mãe mexicana, ilegal nos EUA, que num post anónimo, documenta os riscos que corre e os sacrifícios que faz pelo seu filho todos os dias, num post do reddit. Mas, regra geral, o que é arma do bem, pode ser também do mal.

Através da máscara do anonimato ou pseudonimato, websites como o Reddit, o 4chan e o Quora agrupam e promovem, direta ou indiretamente, o pior da Internet. Recentemente, um grupo de internet trolls – pessoas que provocam uma comunidade ou alguém em particular, propositadamente, através de piadas ou afirmações, para efeitos de normalização do discurso tangencial ou para o seu próprio divertimento – criou e distribuiu cartazes fomentadores da ideia de que pedófilos pertencem à comunidade LGBT, de maneira a denegrir a imagem do grupo.

Na rede social Twitter, várias pessoas reagiram com repulsa ao conteúdo do panfleto. No entanto, a jogada do movimento alt-right – que se opõe à comunidade LGBT – foi rapidamente desmascarada pelo website de fact-checking Snopes.

É também no Twitter – onde o anonimato é menos frequente, mas possível e utilizado – que a comunidade de gamers Gamergate constantemente ameaça as vidas de mulheres no mundo da tecnologia; ou onde multidões forçaram o editor do The New York Times Jonathan Weiss a abandonar a rede social, após um bombardeamento de comentários anti-semíticos, espoletado pelo lançamento do seu livro (((Semitism))), onde critica Donald Trump e os seus ideais.

Coisas que nunca se diriam na cara de alguém são facilmente digitadas e enviadas através de uma conta falsa. A percepção de que tais atos não trarão consequências, devido à maioria das vítimas não ter tempo e meios para desmascarar as pessoas por detrás dessas contas, faz com que elementos básicos da comunicação interpessoal sejam parcial ou totalmente esquecidos – a empatia, por exemplo. O facto de que na Internet se fala com avatars e/ou screen names leva ao esquecimento que, por detrás desses, estão pessoas reais. Tal verifica-se, especialmente, nas celebridades, como no caso da apresentadora do Saturday Night Live, Leslie Jones, acossada online por centenas de pessoas pelo seu aspeto físico.

Deveria, então, o anonimato na Internet ser totalmente abolido para evitar situações destas? Enquanto sociedade, deveríamos nós estabelecer normas de interação social online? Ou o sistema está perfeito atualmente?

São estas e outras questões que vão estar em debate no #6COBCIBER – VI Congresso Internacional de Ciberjornalismo, dias 22 e 23 de novembro, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

Adriana Pinto

 

Pós-verdade: ameaça ao ciberjornalismo, debatida na FLUP

Pós-verdade é o fenómeno através do qual a opinião pública reage mais a apelos emocionais e a crenças do que a factos concretos. É também um dos temas a ser discutido na Faculdade de Letras do Porto, em novembro.

Eleita a palavra do ano em 2016, pelo dicionário Oxford e muito presente no panorama do ciberjornalismo, a era da pós-verdade é marcada pela atribuição de importância a fake newsNo entanto, não implica necessariamente uma mentira. Especialistas falam da falta de influência dos factos para moldar a opinião pública. Pós-verdade representa a verdade com uma importância secundária.

O fenómeno foi pela primeira vez enunciado em 2004, por Ralph Keys, no livro The Post-Truth Era: Dishonesty and Deception in Contemporary Life. Mas, só foi despoletado durante as eleições presidenciais dos Estados Unidos, sendo, desde aí, muito comum no contexto político.

Em novembro, a Faculdade de Letras do Porto recebe a temática da pós-verdade. Debate-se a ideia de uma verdade que ficou para trás e o limite entre a verdade e a mentira e entre a ficção e não ficção.

É uma das ameaças ao ciberjornalismo a ser debatida no VI Congresso Internacional de Ciberjornalismo, durante os dias 22 e 23 de novembro.

Margarida Magalhães

Será o google uma ameaça ao ciberjornalismo?

Todos os dias milhões de pessoas  utilizam o google para pesquisar variados tópicos, entre os quais notícias e sites noticiosos. O tráfego deste motor de busca gera, diariamente,  receitas milionárias.

Ao longo do tempo, têm surgido diversos conflitos entre os motores de busca e os media digitais, em temas como publicidade, subscrições  e o algoritmo. Muitos editores acusam o google de diminuir o tráfego nos seus sites devido aos fragmentos de notícias que surgem na página de resultados de pesquisa.

Esses problemas recaem principalmente sobre  o Google News, que  tem sido acusado de desviar os leitores dos conteúdos por detrás dos firewalls, prejudicando a capacidade  de monetizar as publicações.

Em Espanha, uma lei tornou obrigatório o pagamento da taxa ao proprietário do conteúdo do link da notícia. Por esse motivo, o Google News fechou, em 2014, a sua edição espanhola, uma das suas 70 edições a nível mundial. Também a Alemanha adotou uma lei similar. Contudo, a exigência do pagamento da taxa fica à decisão de cada proprietário.

No entanto, nem todos os motores de busca funcionam como a Google. Exemplo disso são o MSN (da Microsoft) e o Sapo, dois dos maiores agregadores de notícias em Portugal. Enquanto o Google utiliza um algoritmo para selecionar as notícias, o Sapo e o MSN têm equipas a fazê-lo. Para além disso, fazem parcerias com vários site noticiosos, aos quais pagam uma percentagem das receitas ganhas com os conteúdos que vão publicando.

Política do Primeiro Clique Grátis 

Desde 2009 que a empresa americana exigia aos órgão de informação, que pretendessem aparecer no topo dos resultados da Google, que disponibilizassem um determinado número de artigos grátis por dia para os leitores provenientes do motor de busca. Este sistema era conhecido por First Click Free. Segundo a Google, o objetivo era ” ajudar os utilizadores a aceder rapidamente a notícias de qualidade, permitindo que sites de notícias pagos fossem descobertos através de pesquisas no Google”. Contudo, os utilizadores aproveitavam o sistema para evitar as subscrições (ou paywall).

Devido à abundância de  queixas por parte de empresas de média, o número de artigos exigidos foi diminuindo, reduzindo em 2009 para cinco e em 2015 para três. O descontentamento dos media foi tal que o jornal americano Wall Street Journal acabou por abandonar o sistema. Consequentemente, o tráfego do site caiu 44%.  Segundo Suzi Wattford, a diretora de marketing do jornal, o site passou a ser ” discriminado como um site de notícias pagas… Qualquer site como o nosso automaticamente não obtém tanta visibilidade na busca que um site gratuito teria.”

Por fim, em 2017 o Google terminou com os artigos obrigatórios.  Passaram a ser os editores a decidir se queriam disponibilizar artigos grátis e quantos artigos. 

Google Digital News Initiative

Em 2015, com o propósito de “apoiar jornalismo de qualidade através da tecnologia e inovação”,  a Google lançou um novo projeto – Google Digital News Initiative. Este projeto dispõe de um fundo de 150 milhões de euros, que foi sendo distribuído ao longo destes três anos por vários projetos europeus.

Já foram distribuídos 115 milhões de euros por 559 projetos de trinta países. Em outubro decorrerá a sexta, e final, ronda de participação para o Google DNI. 

Na quinta ronda, Portugal foi o sexto país que mais recebeu fundos. Os 1,4 milhões destinados ao país vão financiar  projetos portugueses como o Diário de Notícias, Observador e Media Capital Digital.

Esta iniciativa surgiu após a acusação, por parte da União Europeia, em 2015, do abuso do Google de posição dominante do mercado de buscas online. Várias empresas, como a News Corp ainda apresentam uma atitude muito cética e repreensiva face ao funcionamento da google e apoiam a medida da UE.

É esta relação entre os sites noticiosos e os motores de busca que será debatido na #6COBCIBER- IV Congresso de Internacional de Ciberjornalismo -nos dias 22 e 23 de outubro, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

Cristiana Rodrigues, up 201706370

 

O enviesamento sensacionalista no Ciberjornalismo

O Congresso Internacional do Ciberjornalismo é já nos dias 22 e 23 de novembro e um dos temas a debater é o enviesamento noticioso e o seu impacto no jornalismo online. 

Na transição dos media para o digital, assistimos a um impacto óbvio no que diz respeito ao processo de decisão editorial e no próprio critério jornalístico. Em causa, está a ética e a deontologia do jornalismo que encontrou um entrave ao bom funcionamento  da sua profissão.

Na tentativa de obter o maior lucro possível, as notícias são feitas com o intuito de gerar mais clicks. Disto resulta uma narrativa sensacionalista, inundada de títulos enviesados e por vezes falsos, que tornam os assuntos mais graves do que na realidade o são.

Por outro lado, há quem defenda a ideia de enviesamentos inconscientes, na medida em que a própria cultura organizacional, profissional e os saberes partilhados entre os indivíduos podem gerar automaticamente deturpações no conteúdo informativo divulgado.

Para quem quiser saber mais sobre o tema só tem de garantir presença no seminário de Ciberjornalismo que terá como palco a Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

Salomé Silva

 

Sensacionalismo: o exagerado apelo às emoções

O sensacionalismo, no sentido mais lato, é a divulgação de notícias exageradas ou que causam sensação. São títulos e imagens que, pela linguagem usada, apelam mais à emoção do que à razão, para atrair mais leitores.

Os pilares do jornalismo têm-se diluído e,  em paralelo, os aspetos acessórios são sobrevalorizados.  Há uma perda generalizada da qualidade no jornalismo produzido para o cibermeio. É aqui que entra o sensacionalismo.

Os jornais apresentam a informação de forma incompleta e parcial, num formato excessivo e até enganador. Sugerem aos cibernautas que dispõe de certezas e de factos, quando se tratam de opiniões, hipóteses e casos isolados.

O objetivo é apenas um: garantir a atenção do seu público, “caçar o isco” a todo o custo. Cativam o leitor através de aspetos gráficos, linguísticos e temáticos – as capas dos jornais, as “janelas de contacto”, apostam em temas insólitos, excecionais e retratam-nos com fotografias impressionantes e títulos com trocadilhos e metáforas.

A audiência é alcançada, mas, em alguns casos, começam a circular fake news, derivadas desses métodos.

O ciberjornalismo nacional não é exceção e, aliás, de acordo com um estudo elaborado, o Correio da Manhã,  é o jornal mais sensacionalista, sobretudo em temas relacionados com “Crime e escândalo”.

Ameaça constante ao cibermeio, o sensacionalismo será um dos temas em debate no VI Congresso de Ciberjornalismo.

Mariana Gonçalves